SINTONIA E CUIDADO.

by - 9:00 PM

Uma vez, eu escrevi aqui um texto em que eu falava como eram as minhas relações com os meus amigos. Citei como era para mim a definição de amizade que eu tinha como base na minha vida e citei algumas mudanças que essas definições sofreram com o passar o tempo. Por gostar sempre de estar cercada de pessoas que eu gosto, eu sofri um pouquinho quando fui chegando na fase adulta da vida, naquela fase em que nossos amigos estudam, trabalham, se viram nos 30 nos seus dias e as vezes não conseguem tempo para nos dar um "oi". Sofri pensando que as pessoas estavam me deixando porém depois eu consegui entender que isso só fazia parte dessa nova etapa de vida. Eu passei acreditar nisso, passei a me poupar de muitos martírios desnecessários porém depois de um tempo eu comecei a encontrar alguns problemas com relação a isso. Eu me sentia mal diante de certas situações e me esforçava para usar essa ideia como "desculpa" para tentar amenizar, mas a vida sempre tem algo a mais para nos mostrar.

Minha vida vêm sofrendo vários altos e baixos, como já citei em alguns textos aqui. Em meio a essa confusão, eu tenho dado os meus "vacilos" por simplesmente estar num dia ruim e preferir me isolar. Diante disso, eu comecei a ser mais compreensiva e não esperar tanto do outro, afinal ele também pode estar num dia ruim e não há nada de errado nisso. Comecei a acreditar em muitas coisas, a reforçar muitas ideias na minha cabeça que até então pareciam fazer muito sentido, tudo isso para evitar esperar muito de uma pessoa que não estava na mesma sintonia que eu.

Sintonia. Essa palavra deveria estar mais presente em nossa vida, em nosso olhar para o outro no dia-a-dia. Diferentemente do que eu achava, ser amigo não tem absolutamente nada a ver com presença diária, sobretudo na fase adulta. A amizade acontece quando a gente não se dá conta que está em perfeita sintonia com alguém, nem que seja a cada 2 meses. E quando digo sintonia, não significa estar fazendo as mesmas coisas em determinados momentos, mas sim estar de acordo com a visão de mundo que o outro tem, estar de acordo com as coisas que o outro valoriza.

A gente vive num mundo muito louco. Um mundo que se transforma muito em pouco tempo e precisamos estar em sintonia com ele também para notar essas mudanças, notar quando é a hora de parar e tentar se encaixar em outro lugar. Eu era (estou tentando acreditar nisso) uma pessoa muito extremista, onde não existia equilíbrio e nem flexibilidade nas minhas relações: ou eu gosto muito de você ou eu não gosto, ou nós somos muito amigos ou não somos. Quando eu me deparava em situações como eu citei no outro texto, de alguém que está com seu tempo dividido com outras coisas e acaba faltando tempo para os outros, eu basicamente me forçava a tentar não me importar com aquela pessoa, no sentido de não ficar pensando no que ela fez ou deixava de fazer. Tentava não esperar mais nada dela como se fosse amenizar a falta que ela estivesse me fazendo, apesar de tudo de bom que eu tinha guardado dela. Isso nunca foi saudável, até por que quando a pessoa aparecia, eu esquecia tudo e agia como se nada tivesse acontecido e no fim eu só me machucava com essa sensação de ser trouxa, "caindo" de novo no papo da pessoa.

Recentemente eu tenho refletido que existe um espaço entre ser amigo e não ser, e que isso não precisa ser algo ruim para ninguém, afinal faz parte da vida. É natural que em algum momento você não esteja mais em sintonia com quem você tinha há meses, mas isso também não significa que tudo que foi vivido é para ser descartado.

Durante muito tempo eu sofri por não ser notada, por estar dando muita importância para certas pessoas que não conseguiam enxergar, ou não sabia lidar, com o que eu estava vivendo. Enquanto eu sofria por isso, sofria também por me importar demais, por pensar tanto nos outros e só agora me dei conta do mau que eu estava fazendo a mim mesma. Quando eu olhava para o que o outro "deixou" de fazer, eu deixava de olhar para mim e para o que eu precisava fazer por mim. Eu só enxergava o cuidado que o outro deixava de ter comigo e não enxergava que eu estava fazendo isso comigo mesma. E como esperar que o outro faça por você, se nem você faz?

Essa atitude extremista dificultava muito também. Por que quando tudo tava bem, estava ótimo e quando eu chegava na outra ponta, era quase o fim. Entender que eu precisava buscar o equilíbrio nas minhas relações, entender que nem sempre todo mundo vai ser super amigo e nem por isso, quando não for, vai apagar o que foi vivido antes foi fundamental para deixar de me martirizar.

Como eu sempre repito, a vida é feita de fases e de acordo com cada uma delas certas pessoas se tornam mais presentes ou não. De acordo com cada fase, determinada pessoa se aproximam e outras se afastam pelos mais diversos motivos que nem sempre poderão ser compreendidos por quem está do outro lado. Talvez isso esteja sendo repetitivo, mas essa repetição é necessária para reforçar essa ideia na minha cabeça.

Hoje, eu estou feliz de estar diante de tantos acontecimentos com essa visão. Não foi fácil chegar até aqui, eu sofri, chorei muito e sempre trazendo a culpa para mim, quando na verdade em muitas situações não existem culpados.

Hoje consigo ser grata e amar tanto as pessoas que estão comigo enfrentando um monte de coisa, quanto aos que estão mais distantes, sem julgá-los ou querer mais distância. Sou extremamente grata a eles por terem me ensinado tanto, por terem me ajudado a dar esse passo e por me ajudar a cuidar mais de mim.

Valorize você. Valorize os que estão com você e fazem questão de demonstrar. Mas não desvalorize quem já esteve um dia e seja por qual for o motivo não está aqui hoje. Claro que eu digo isso olhando para uma relação de afeto e amizade construída por ambas partes, não um relação onde só um se esforça. Nesse caso, apenas deixe ir.

Não há mal nenhum em fazer questão de um carinho, um cuidado, um amor de vez em quando. Mal há em não enxergar quando ele vem, e só ter olhos para onde ele não vem.

Se cuide.

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Texto citado: Os de sempre e os e vez em quando.

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