"COMO É VIVER COM ISSO?"

by - 6:43 PM

Meu último texto foi algo bem pessoal e acredito que muita gente pode não fazer ideia do que ele significa para mim. Durante algum tempo venho vivendo esse drama, diríamos assim, e diante disso eu não conseguia encontrar uma maneira de falar sobre isso para os outros e por isso me escondi tanto que a busca para me encontrar de novo tem sido extremamente difícil. Aos poucos eu vou identificando as partes desse processo que eu tenho vivido e tenho aprendido a apreciá-las e valorizá-las, pois hoje eu consigo ver que tudo isso faz parte de um movimento para que eu me torne mais ainda quem eu realmente sou, como se fosse para entrar em sintonia comigo novamente. 

Ontem foi dia de terapia e desde a semana passada eu estou focada nos detalhes desse processo, sobretudo o que vivi na quarta-feira passada me fez repensar em várias coisas. Se você não tem conhecimento do que é uma terapia eu posso te dizer que ela é uma troca, óbvio que eu conto isso a partir do que eu vivo e que pode não ser uma verdade universal, mas se você tivesse que procurar uma terapeuta, eu te aconselharia buscar alguém que te oferecesse essa troca. Enfim, lá no início a minha psico me disse que a nossa relação seria essa, mas lá trás eu não conseguia identificar isso ainda e só na última semana eu enxerguei, valorizei e me orgulhei disso. Eu cheguei a definir no twitter que eu consegui ser grata mesmo em meio a tanto caos, que algo bom estava acontecendo e que certos movimentos, alguns simples outros complexos demais, eram necessários. E o algo bom foi essa questão de conseguir perceber mesmo diante de algumas situações tão ruins.

O que eu realmente gostaria de falar nesse texto, é sobre outro ponto que tomou conta de grande parte dos meus pensamentos essa semana: como é isso de ter depressão? A gente acaba lendo muita coisa na internet, acaba se deixando levar por muitas opiniões erradas que escutamos por ai e com isso tornamos elas um pouco da nossa verdade também. Mas a verdade é que ninguém sabe de fato o que é isso, apenas quando vive e ainda sim é complicado saber exatamente como ajudar outra pessoa com depressão já que apesar de sintomas parecidos, cada um vive a sua da sua própria maneira.

Eu mesma tive muito preconceito no início. Como já contei, algumas vezes eu já havia pesquisado sobre alguns sintomas e comecei a acreditar que pudesse ser real, mas sempre que eu me sentia bem de novo eu acreditava que era só uma bobeira da minha cabeça e que já estava tudo de fato bem. As pessoas têm dessas coisas, de acreditar que a pessoa só está de fato muito mal quando ela deixa estampado no rosto e na verdade, quando ela chega nessa situação ela pode estar apenas exausta de fingir e está tentando de algum forma pedir ajuda. Depressão não é só sobre não querer sair do quarto, não querer ver a luz do dia, não querer ter contato com ninguém. Na verdade, esses são os indícios mais claros de que tem algo bem errado mas ainda sim, parece que é difícil para as pessoas enxergarem. Não querer sair do quarto passa a ser preguiça, evitar ter contato com as pessoas passa a ser antissocialismo, a tristeza excessiva e o desânimo frequente acaba sendo só uma bobeira sua que você consegue mudar se você quiser, mas você tem que querer. É o que as pessoas dizem. Mas quem disse para elas que eu não quero? Quem disse para elas que eu gosto de ficar trancada o dia inteiro, querendo me relacionar com as pessoas e não conseguir por que eu não me acho boa o suficiente?

Se você não sabe, quem convive com a depressão convive diariamente com um sentimento de culpa que vem a tona diante das situações mais simples possíveis. Então se você acha bobeira, e de fato pode até ser, mas não menospreze o que a pessoa sente, por que ela vai se sentir muito pior. Demonstre interesse, demonstre apoio, ofereça um abraço e um colo, as vezes é tudo que a pessoa precisa. Eu não culpo ninguém por não entender o que eu vivo, mas eu culpo quem sabe e não respeita. Todo esse processo que eu tenho vivido me ensinou muito sobre respeitar as pessoas, não necessariamente por que elas têm depressão, mas sim por que cada pessoa têm seus problemas, têm seus dias ruins e têm seus motivos para tomarem determinadas decisões. Isso me tornou um pouco trouxa, as vezes me sinto assim, mas eu me sinto assim com a sensação de que eu estou sendo compreensiva (ou me esforçando) e sei que em alguma hora o universo vai me devolver isso. 

Eu assisti um vídeo (inclusive foi ele que deu um pontapé para esse texto) que é sobre uma pessoa falando como é ter depressão e eu estava com esse desejo de saber mais muito forte dentro de mim, pois tinha ouvido na semana passada um pouco disso e eu queria muito descobrir mais. Sempre que eu leio algo sobre, um depoimento sobre esse dia-a-dia é como se eu me sentisse acolhida, é como se a outra pessoa tivesse me dizendo que eu não estou sozinha e que iremos enfrentar isso juntos. Foi o que senti na semana passada, foi o que eu senti vendo esse vídeo. O link é esse aqui, caso você se interesse.

A Stella, a moça do vídeo, conta uma situação que eu vivi e recentemente eu fiz uma leitura exatamente da maneira que ela fala. Ela conta que em uma época da vida dela, ela sentia muita necessidade de sair e beber muito, por que quando você enfrenta uma crise você quer urgentemente uma saída rápida diante daquilo. E sair para beber, ficar louca e rir a toa só por estar bêbada, se torna de fato a melhor opção. Mas ai quando você chega em casa e o efeito do álcool passa tudo volta: a tristeza, o desânimo, a sensação de não prestar pra nada, a sensação de que você não sabe mais quem você é, do que você gosta. Por algum tempo isso aconteceu comigo, essa necessidade absurda de estar em contato frequente com muita gente, saindo para ficar louca e ter história para contar. E não tem nada de ruim nisso, desde que você não deposite nesse ato toda a sua necessidade diante de um momento difícil. Ter história para contar é meu lema de vida mas não dessa forma. Tentar preencher o vazio dessa forma só piora e só esvazia cada vez mais, por que ai você deixa de fazer por de fato gostar e passa a fazer por que acha que aquilo é extremamente importa para sua vida, quando na verdade não é. O que na verdade importa é você ter a percepção do que está acontecendo e equilibrar as suas decisões. Estar em contato com coisas que te preencham e não alimentem o vazio.

O que eu queria com esse texto é expor um pouco mais do que eu vivo, pois eu não sei qual é o seu caso mas no meu, antes dessa merda toda começar, eu não tinha ninguém próximo para aprender lidar. Aos poucos, eu fui notando em mim e nos outros alguns indícios e fui buscando empatia, mas para mim era fácil já que eu vivia de alguma forma, mas sei para quem não vive é difícil. É uma sensação de não saber o que fazer. Tudo que você tem a fazer é acolher, é buscar estar do lado, é se preocupar, é dar atenção. No vídeo, Stella cita uma frase que resume o que é se relacionar com uma pessoa depressiva. Ela diz que quando você oferece ajuda, você precisa "escutar querendo ouvir e não querendo responder”. Não é para você dizer o que acha, dar motivos para a pessoa sair daquela situação pois esses motivos ecoam na mente dela e faz com que ela se culpe ainda mais por estar ali, por que acredita que é ela que está permitindo isso.

Nós temos uma cultura muito estranha sobre a depressão. Não ajude a alimentar isso.

Se você conhece alguém com depressão, busque saber mais para aprender a lidar. Se você tem depressão, busque saber mais para aprender a lidar. 

Hoje, eu escrevo esse texto tendo como saldo diversas coisas, sobretudo olhar para determinadas situações e vê-las como algo essencial para o meu autoconhecimento. Mas dias como hoje, nem sempre são frequentes. Têm dias que eu apenas consigo ver, ou imaginar, coisas ruins diante disso tudo. Viver com depressão é a definição exata do que é viver um dia de cada vez. Não adianta hoje eu estar bem e fingir que nada está acontecendo, eu preciso saber identificar que hoje estou no controle, mas se daqui a pouco ou amanhã eu não estiver, não é o fim do mundo e isso uma hora vai passar. Parece que não, mas passa. Pode ser que doa, mas passa. E se não passar sozinha, busque ajuda. Não é vergonha pedir socorro, é difícil. Digo isso por experiência própria, eu nunca pedi socorro com palavras, foi Deus que deu entendimento necessário as pessoas que estavam a minha volta para que elas entendessem. Valorize quem percebe isso, quem se importa. E quem não entende, não vai fazer falta nesse processo, apenas vai te ensinar coisas que você vai entender lá na frente.

Se ame, se cuide, se respeite também. Você não está sozinha(o), seja qual for o seu lado nessa batalha.

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2 comentários

  1. Adorei seu texto. Me identifiquei super e até me emocionei.

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    1. Obrigada!
      Nosso caminho é esse, lembre-se que você não está sozinha, viu?

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