CARTA PARA QUEM SE IMPORTA

by - 9:58 PM

A pouco mais de 2 anos vem acontecendo uma série de coisas na minha vida que me transformou aos poucos no que eu sou hoje. No início eu achava que era normal ter uns dias ruins até que eu comecei a pensar que eu não deveria deixar eles me consumirem e com isso, eu passei a ignorá-los até acreditar que estava tudo sempre bem. Até que quando eu menos esperei, a bomba explodiu, aquela bomba que eu citei no último texto. Até hoje eu não encontro uma justificativa exata para dar àquele surto, o gatilho foi um motivo super besta mas o acúmulo de coisas nos últimos meses antes foi bem intenso.

Depois daquele dia eu nunca mais fui a mesma. Aquela noite me assombra vez ou outra apesar de eu me esforçar para conviver bem com ela, afinal o que passou passou. Mas ela não passou de vez, ela me assombrou outros dias, tardes, noites. Com o tempo eu sofri diversas mudanças e hoje eu vejo o quanto me perdi dentre essas mudanças. Meus surtos continuam comigo, quase sempre sem motivos aparentes ou justificáveis. 

Por diversas vezes eu recolhia meus sentimentos e jogava no Google para saber do que se tratava, algumas vezes ele me fez acreditar que eu estava com depressão. Quando eu estava mal, eu acreditava fielmente, mas se eu acordasse no dia seguinte me sentindo bem eu duvidava e deixava isso pra lá. Eu acreditava que se eu melhorasse rápido, não era nada demais e sim uma tristeza normal do dia-a-dia. Mas essa tristeza normal parecia que não me largava e piorava com uma série de frustrações que foram acontecendo pelo meio do caminho. Mas eu preferia acreditar que isso ia passar e que não era nada demais.

O tempo foi passando e isso piorando. Num dos dias ruins, comecei a pensar na possibilidade de buscar uma psicóloga mas eu não tinha como arcar sozinha, procurei no livro do plano de saúde e nada... e confesso que também não queria qualquer pessoa por achar que isso poderia piorar minha situação. Quando melhorei, deixei pra lá e não lembro quando tempo se passou até que a próxima crise viesse e esse desejo também.

Acredito que mais alguns meses se passaram até que meu namorado presenciou uma das minhas crises e creio que ele ficou com aquilo na cabeça. Mais algumas se semanas se passaram e entre elas alguns altos e baixos até que um dia ele virou pra mim e disse que isso não podia continuar desse jeito e que ele conhecia uma psicóloga. Na hora, minha reação automática foi falar que não mesmo sabendo que aquilo era justamente o que eu precisava. Eu relutei, tentei encontrar desculpas até que não tive mais pra onde fugir. Nem tem tanto tempo assim, mas acho que não vou esquecer aquele 6 de outubro de 2017 nem tão cedo na minha vida. Nesse texto aqui eu contei um pouco de como eu estava me sentindo 6 semanas após o início da terapia.

De fato, eu precisava disso. Precisava de um momento durante a minha semana pra me descarregar de tudo que me afligia e me dominava. Jacqueline foi sem dúvidas um anjo que Deus teve todo um trabalho para colocar na minha vida. Mas a terapia não era a solução dos meus problemas, como citei no texto acima, ela apenas ia me auxiliar a conviver melhor com eles. E eu estava sabendo lidar com esse fato muito bem, acredito eu.

Mas no início desse ano as coisas foram se complicando mais pro meu lado e sem eu me dar conta. Pra completar, ainda tinha uma monografia pra escrever. Uma pressão absurda na cabeça, prazos correndo, livros pra ler, sensações ruins de incapacidade, tristeza, desânimo, medo. Duvidei ao extremo de onde eu poderia chegar com essa monografia, pensei em trancar e adiar pro próximo período e temi que eu não conseguisse continuar, abandonasse de vez. Entre mais alguns vários e intensos altos e baixos, eu cheguei até o dia 09 de maio completamente na merda. Até sair de casa pra a terapia foi difícil naquele dia mas eu fui sem saber por que tava indo. Lá eu descobri que eu estava apresentando um quadro de depressão. Na mesma hora me veio na cabeça todas as pesquisas que eu fiz sobre isso, pensei quanto eu lidava bem com os diagnósticos do Google e no quanto eu tinha sido impactada ao ouvir isso de uma psicóloga, que estava ali na minha frente e vinha acompanhando comigo toda a minha vida nos últimos meses. Aquele dia não foi fácil pra mim, mas foi uma espécie de choque de realidade que me fez acordar um pouco pra vida e pro que eu estava fazendo. Eu me lembro que uma semana depois eu estava mil vezes melhor lidando com isso. Mas eu lidava sozinha, lidava com a psicóloga no máximo. 

Ninguém nunca ouviu da minha própria boca que eu tenho depressão. Eu nunca me senti a vontade a falar sobre isso. Inclusive nesse 09 de maio, eu tive a oportunidade de falar ainda sobre o efeito da emoção e optei por guardar pra mim. Eu achava que se eu contasse pra alguém as pessoas teriam pena de mim, não me pergunte o por que. 

Durante todo esse tempo eu vivo dias normais, dias felizes, dias tristes e dias insuportavelmente ruins. As vezes, essas variações acontecem no mesmo dia até. Isso fez com que eu me afastasse de muitas pessoas, nesse caso eu  me agarrava a outras desculpas pra não ter que dizer "ei, eu estou com depressão, tive um dia ruim e preciso que você respeite meu espaço".

Quando eu estou mal eu não quero contato com ninguém, eu não quero ter que fingir pra alguém que eu estou bem e feliz, ainda que seja virtualmente. Por isso, eu deixei de estar em contato com muita gente por não querer omitir isso, já que eu não iria contar. Com isso, eu fui me fechando cada vez mais e as pessoas me julgando por motivos que não tem nada a ver com isso. Eu não me chateio com ninguém por não saberem, afinal eu também não falei, mas me chateio pois ninguém nunca veio me perguntar se tá tudo certo e por que eu ando sumida, ou simplesmente respeitaram a minha ausência por suspeitarem que talvez deva ter um motivo. Óbvio que cada um reage de uma forma, mas quando a gente tá mal tudo se torna motivo pra desgraçar mais ainda a nossa cabeça. E um relacionamento se faz com duas pessoas, as duas têm que se esforçar e fazer a sua parte.

Há poucos dias uma amiga me disse que estaria de férias e falou pra marcarmos algo. Nesse dia eu estava feliz, empolgada e me animei bastante com a ideia. Se passaram alguns dias e eu andei enrolada, mas hoje eu estava pensando que eu deveria demonstrar algum interesse também mas eu simplesmente não consigo fingir, até por que tenho até medo de marcar algo e no dia estar mal e estragar tudo. 

Então, a quem se importa em saber como eu de fato estou e se questiona se existe algo por trás do meu sumiço ou do meu silêncio, eu não tenho passado por bons momentos junto dessa depressão e ela me sabota bastante. Eu só espero que as pessoas consigam respeitar um pouquinho mais o meu jeito estranho, ou fechado. Espero que um dia entendam que eu não deixo de ir a algum lugar por simplesmente não querer, mas sim por que não estou bem a ponto de socializar com ninguém e nem quero estragar o ambiente com meu desânimo, pessimismo e estresse. Nem sempre quando eu estou rindo e fazendo piadas significa que eu estou 100% bem, as vezes eu só estou me esforçando muito mas ainda sim eu falho.

Aos poucos o meu processo caminha, existem dias que ele retrocede bastante, outros nem tanto, outros ele evolui tanto que me faz pensar que a depressão ficou pra trás. Mas eu acho que ainda temos muito que viver e aprender uma com a outra, ela ainda tem muito a me mostrar, eu espero que eu consiga enxergar e que nossa relação não piore, ou que ela me piore.

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