NO BALANÇO DA CORDA

by - 7:33 PM


Uma das minhas metas pro ano de 2019 é ler um livro por mês e decidi começar por um que eu estava na luta há alguns meses, ainda no final de 2018: A sutil arte de ligar o foda-se. Não que o livro fosse ruim, muito pelo contrário, mas eu perdi meu time pra leitura em algum lugar nessa vida louca e estou com muita dificuldade pra me manter concentrada e quieta por muito tempo lendo. Maldita pressa (ou ansiedade) de tudo. Aliás, esse é o motivo de eu ter criado essa meta, mas enfim.

Comecei 2019 cheia de esperança, como já falei, mas janeiro foi longo o suficiente pra me fazer viver uns 5 dias em um e me fazer ter a sensação de que eu fui ao céu e ao inferno em poucos minutos. Com isso, obviamente, a corda da esperança tremeu e muito. Me senti caindo lentamente, porém algo fez com que eu conseguisse manter um dedinho segurando a corda. Fiquei ali, vivendo aquele momento até que eu fui conseguindo com os outros dedos me dar mais segurança e ai por fim eu consegui me colocar de pé de novo. Ai bateu o medo, bateu diversas questões do tipo "como eu vou seguir agora?". Nesses minutos que eu, metaforicamente, fiquei pendurada, eu pensei um milhão de coisas e entre elas se valeria continuar ou soltar o dedo e eu posso dizer que eu senti medo, diante das duas situações. Mas foi uma vida que está por vir que me deu um estalo de "eu quero estar aqui pra um tanto de coisa".

Depois de enrolar bastante, fevereiro chegou e eu precisava terminar a leitura de janeiro, que estava na metade do último capítulo mas que estava difícil de concentrar. Mas enfim, fui lá e nas últimas páginas conversamos sobre o medo. Digo que conversamos por que tive a sensação de que por muita sorte da vida esbarrei com um senhor daqueles que é muito bom nas histórias pra refletir e ele me contou uma muito boa. Enquanto lia, ou ouvia mentalmente, eu ia desenhando a minha vida. Fui me colocando em situações que encarei nas trilhas que eu faço e fui me conectando com o que me faz transbordar tanto. O que eu estava vendo, só me deu certeza do que eu quase me deixei cegar no meu último momento de escuridão. E cara, o quão precioso é enfrentar os nossos medos e nos sentir VIVOS diante deles.

Comentei com minha psi que estranhamente depois do meu momento de crise eu me recuperei "do nada". Enquanto eu organizava meus pensamentos pra escrever aqui eu me dei conta que o que eu fiz foi encarar bravamente tudo que eu estava sentindo, apreciar o precipício com toda cautela e cuidado que me cabia. Analisei o horizonte, olhei pra baixo pra calcular a queda mas lembrei que existe algo muito mais belo e precioso que aquilo e quando aos pouco eu fui me retirando daquele momento, eu estava na verdade era unindo forças pra me erguer. Eu passei o dia me sentindo viva, me sentindo bem de uma maneira muito absurda que não fazia sentido algum na hora. Achei que eu tivesse ficado louca, por que algo não estava certo.

Encarar a morte, ainda que seja apenas por pensamentos vagos, é uma experiência muito enriquecedora. Nos faz questionar se nós já sabemos tudo que ""deveríamos"" ou se ainda devemos buscar mais, nos faz questionar o por que devemos ser ou investir em algo que não nos alimenta em nada, nos faz questionar se vale a pena gastar o nosso precioso tempo com questões que não valem a pena. Encarar a morte é abraçar a vida. Valorizar a vida. Saber que nós vamos morrer tem que ser o gás que nos move a cada dia quando acordamos, com aquele desejo de ter que fazer algo acontecer nesse dia ainda. Ainda que seja dar bom dia a um desconhecido na rua.

Digo isso como um lembrete pra mim. No livro se diz que "o medo da morte é o medo da vida" e isso me abraçou como se tivesse sido escrito pra mim. Têm dias que eu acordo cheia de gás, mas sinto que fico cega diante deles e não sei como administrar. (Olha a famigerada ansiedade dando oi). E esse desespero por não saber administrar me dá medo da vida e da morte; medo que resulta no balanço da corda; medo que as vezes que faz cair.

Eu já quis perder o medo de muita coisa, mas a partir de hoje vou tentar ter uma boa relação com ele pra que ele me lembre todos os dias que a morte será inevitável e por isso todos os dias eu preciso ter medo de não viver meus dias da melhor maneira que me couber.

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